Imprecisão Azul

19 Setembro - 31 Outubro 2019

Daniel Mattar (Brasil, 1971)

Fernando de La Rocque (Brasil, 1979)

Mait-Britt Wolthers (Dinamarca, 1962)

Niura Bellavinha (Brasil, 1960)

"Ai eu já tentei mandar pintar o céu em tons de azul, para ser original
Só depois notei que azul já ele é, houve alguém que teve ideia igual"

O Anzol (1987), Rádio Macau

A Brisa Galeria - Lisboa, em colaboração com a espace_L - Genebra, inaugura a exposição colectiva intitulada Imprecisão Azul com os artistas: Daniel Mattar (Brasil,1971); Fernando de La Rocque (Brasil, 1979); Mait-Britt Wolthers (Dinamarca, 1962); e Niura Bellavinha (Brasil, 1960).

O projecto curatorial desenvolve-se a partir da ideia alargada da cor azul, as suas relações cromáticas e conceptuais e, consequentemente, a sua imprecisa definição. Ao indagar a veracidade dos tons de azul que os artistas apresentam, tentar-se-á redefinir o modo como se vê determinada tonalidade e como essa visão repercute uma intencionalidade artística.  azul é umas das três cores primárias (conjuntamente com o magenta e o amarelo) que se pode definir em duas categorias distintas, segundo as suas características psicológicas e físicas, respectivamente.

 

Na primeira categoria psicológica, o azul costuma estar associado à frieza, à meditação, à monotonia, à depressão, à tranquilidade e à paz. Inúmeras vezes, esta cor fria relaciona-se com uma sensação de apaziguamento interior, talvez associado à imensidão da cor azul do céu e do mar.

 

Na segunda característica física, o azul é definido com um comprimento de onda na ordem de 455 a 492 nanômetros do espectro de cores visíveis e tem uma frequência entre
~680-610 THz.

 

Atendermos que as características físicas são ao nível da percepção e da luz visíve e não uma característica exclusivamente inerente aos objectos que recebem essa luz, ou seja, a cor que os objectos reflectem é mais uma propriedade da luz de origem e menos dos objectos se apropriam para se tornarem visíveis.


Neste sentido, pode-se referir que a categoria psicológica da cor azul, pode ser mutável e iludida, consoante as alterações que a luz incide sobre os objectos apresentados. Este efeito de imprecisão é, talvez, uma das ferramentas mais subtis da arte, enquanto disciplina que discute sobre a visibilidade das coisas que nos rodeiam. Assim, o azul pode ser apenas uma impressão que impressiona de diferentes modos e feitios.

As fotografias de Daniel Mattar implicam literalmente a imagem da cor azul como matéria mutável, que através de diversas fontes de luz modifica o seu estado de espírito e a sua sensibilidade. As experiências fotográficas que o artista leva a cabo revelam-se uma espécie de mostruários de emoções e sentimentos.

Os trabalhos de cerâmica de Fernando de La Rocque, através de efeitos de claro-escuro, jogam com a percepção da imagem e das figuras que dele emergem. Os desenhos entrelaçados em formas estranhas dão a ver um mundo de possibilidades criativas, através da constituição de um padrão de azulejo.

As pinturas de Mait-Britt Wolthers procuram um equilíbrio visua num trabalho de relação entre a forma e a cor. Os azuis são pontuados com pequenas notas de outras cores (vermelhos, amarelos e brancos) em que se reconhecem objectos do quotidiano.

As pinturas abstractas de Niura Bellavinha remetem para uma pesquisa entre as matérias naturais, como a água e a terra, e o modo como podem expressar um pensamento conceptual. As inebriantes superfícies pictóricas remetem para uma ideia aérea e sensível.

De uma forma simples, pode-se dizer que o céu é azul, porque a atmosfera normalmente, composta por diversos elementos, como a água e oxigénio, reflecte o espectro azul dos raios de luz que por ela trespassam. Claro que se atmosfera tiver uma composição diferente a tonalidade de azul também será diferente.

 

Contudo, à noite, o céu não é azul, não porque a atmosfera seja diferente,mas porque a luz não existe. Ao se considerar que a cor é imprecisa, mesmo naquilo que se dá como adquirido como o céu e o mar, pode-se pensar que a arte é mais um modo de revelar a invisibilidade das coisas e dos seres, ou seja, uma forma de mostrar aquilo que está submerso nas profundezas da realidade visível e palpável.

Hugo Dinis, 2019

 

Curadoria e Texto: Hugo Dinis

Montagem expositiva: Pedro Canoilas

Realização: Brisa Galeria