FLOWING FORMS: Daniel Mattar | Texto Curatorial Martha Kirszenbaum

23 Novembro 2023 - 10 Fevereiro 2024
    • Daniel Mattar repensa a relação entre fotografia, pintura e escultura, intervindo nos intervalos que se infiltram em cada um desses suportes. Sua prática proteiforme sugere um espaço mental que reside na relação entre espaços pintados, não pintados, preenchidos e vazios.
  • Mattar transforma, então, os objetos pintados em formas fotográficas digitais, que posteriormente reorganiza desta vez em objeto escultural – é o equilíbrio das relações entre volume, cor e luz, que funda o próprio sentido de suas obras. 

    • A escolha de cores e tons de tinta tem um papel particular na prática de Daniel Mattar, ele aplica, gota a gota, com cuidado meticuloso... As cores nunca estão ali por acaso, elas carregam sentidos ocultos, códigos, tabus e preconceitos. Elas são o reflexo da nossa vida cotidiana, da nossa linguagem, do nosso imaginário. Não são nem imutáveis nem universais e carregam uma história.

       

      - Martha Kirszenbaum

  • Daniel Mattar, White Balance, 2019
  • Daniel Mattar

    Daniel Mattar

    Daniel Mattar nasceu no Rio de Janeiro em 1971. Desde cedo, Mattar percebeu que a fotografia oferecia uma possibilidade de expressão artística, o que o levou a cursar Arte e Design na PUC-Rio. Daniel Mattar descobriu um caminho pessoal na fotografia de retratos, lançando uma carreira de grande sucesso que durou quase 30 anos. Ele se dedicou profundamente ao estudo da técnica e encontrou sua maior curiosidade e talento na iluminação.

     

    Mattar trabalha com diferentes escalas, do micro ao macro, fotografando pigmentos em pequenas superfícies, criando composições tridimensionais e contemplando luz e sombra. Para passar de uma pintura a uma fotografia e, em seguida, a um objeto, Daniel Mattar lança mão de um leque de técnicas, geralmente partindo de materiais que encontra, nos quais intervém com um gesto pictórico, cobrindo-os com uma camada espessa de tinta a óleo, e que depois fotografa para então reimprimi-los em grande escala.

     

    Mattar tem realizado exposições individuais e coletivas desde 1988, incluindo o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o Espaço Cultural Sergio Porto e o Museu de Arte Deji, que adquiriu a série Photographic Drawings para sua coleção. Suas obras estão em importantes coleções particulares no Brasil, nos EUA, na Europa e na Ásia.

  • Série Photographic Drawings

    Para sua série Photographic Drawings, o artista se apropria de minúsculas cartelas de cores coletadas em diversas lojas de tinta e de materiais de construção,sobre as quais dispõe gotas de tinta, remetendo ao dripping paint do pintor americano Jackson Pollock. Depois de refotografadas e reimpressas, as gotas compõem um conjunto de formas e cores pop modernistas, que dão a ilusão de grandes manchas de material fluido em relevo.

  • Daniel Mattar, Kokai, 2021

    Série Quadra

    Kokai, 2021

    Na série intitulada Quadra, Daniel Mattar apresenta formas quadradas, coletadas de cartelas de cores, sobre as quais se estampam seus números de classificação. Há ali uma intensidade mais profunda, que evoca a energia do mar e do vento. A textura da imagem parece amassada, agitada, como que percorrida por ondas e depressões, e oferece à superfície da fotografia uma aparência ora tempestuosa, ora lunar. É essa tensão e essa manipulação entre realidade e ilusão visual que proporcionam às obras de Daniel Mattar um descompasso e uma estranheza particularmente cativantes

  • Daniel Mattar, TERRA ÁGUA, 2021

    Série Mineral

    TERRA ÁGUA, 2021

    Na série Mineral, Daniel Mattar usa diferentes pigmentos de cor ocre, azul-real, amarelo-limão e verde-pinheiro. Nas suas obras, os pigmentos também têm uma história social e política. Alguns provêm do Marrocos, principalmente de Fez, cidade conhecida por seus curtumes, enquanto outros são cinzas da Floresta Amazônica, ameaçada pelo desmatamento.

  • Daniel Mattar, Shodō, 2022

    Série Shodō

    Shodō, 2022

    A efemeridade das fotografias de Daniel Mattar em sua série Shodō reside no gesto preciso de sua mão com palitos de madeira embebidos em tinta, que também o conecta ao universo da pintura. Como na caligrafia japonesa, o movimento tem que ser rápido e preciso. O artista tem pouco tempo para capturar a volumetria desejada das gotas de tinta antes que elas sequem. As gotas têm corpo curvo, aparência orgânica e contrastam com o fundo colorido.

  • Série Polaroid

    Inspirada em suas primeiras viagens ao Japão, no início dos anos 1990, Mattar toma como ponto de partida um conjunto de fotos de uma boneca japonesa cuja superfície foi repintada com tinta na cor branco de titânio. A prática artística de Daniel Mattar desenvolveu-se, portanto, em torno do conceito de reciclagem, apropriação de materiais e objetos do cotidiano. Deste modo, o uso que faz de pacotes de chá da famosa marca americana Yogi Tea, de rótulos de produtos, de cédulas de dinheiro, de fotografias perdidas, de selos e imagens recortadas de revistas parece salientar seu interesse pela trágica banalidade do cotidiano. 

  • Série Vista Aérea

    Daniel Mattar explorando o micro-universo de superfícies que leva, nesta série, a intenção de sobrevoar vales, oceanos e montanhas formadas pelo pigmento mineral sobre papel onde o artista marca, apaga, acrescenta várias camadas de gestos, caligrafia, pó de cor e volumes que se revelam monumentalmente.