RETRATOS

9 Outubro - 15 Novembro 2025

Retratos

Adriano Fagundes e Daniel Mattar

 

 

Há muito o retrato deixou de ser apenas o gesto de fixar feições. No território da arte

contemporânea, ele se reinventa como campo expandido, em que identidade se projeta em

objetos, símbolos e atmosferas que traduzem mais do sujeito do que sua própria face. É nesse

espaço de expansão que se encontram as pesquisas de Adriano Fagundes e Daniel Mattar, em

diálogo que ganha corpo nesta exposição.

 

Adriano Fagundes desloca o retrato para o campo da música. Para ele, são as coleções de

discos, a fita cassete, as palhetas e os instrumentos que dão corpo à subjetividade. 

Cada objeto musical escolhido pelos retratados se converte em síntese de uma vida, em

autobiografia cifrada. Há aqui uma arqueologia afetiva: o vinil gasto pelo tempo, a palheta

grafada com o nome de uma banda, a fita cassete com uma anotação manuscrita, todos esses

elementos condensam memórias e tornam-se retratos de ausência e presença simultâneas. 

Em meio a esses trabalhos, o artista apresenta também sua própria coleção de discos como

autorretrato, reafirmando que o repertório que nos acompanha é também autorrepresentação,

espelho sonoro de quem somos. Fotógrafo e também músico, constrói imagens que são

menos representações e mais símbolos de uma vida tecida pela música.

 

Daniel Mattar, que há anos investiga as passagens entre fotografia, pintura e escultura, traz

nesta exposição uma série de pinturas que tensionam o retrato para o campo da cultura visual.

Os livros, pintados em escala frontal e quase como naturezas-mortas erguidas em

verticalidade, tornam-se autorretratos e retratos: aquilo que se lê diz tanto quanto aquilo que

se vê. Cada lombada pintada carrega afinidades eletivas, genealogias e histórias de formação.

Ao lado desses autorretratos por livros, Mattar apresenta também pinturas derivadas de

fotografias realizadas por ele mesmo, como no retrato de Adriano, em que inscreve a troca e a

amizade em sua própria pintura. Sua matéria densa, ainda úmida, capta a luz e cria volumes que

oscilam entre presença e dissolução, reafirmando a investigação de Mattar sobre uma pintura

que não se encerra na tela, mas se abre em processo.

 

O encontro entre os dois artistas nasceu dessa afinidade essencial: ambos buscavam, em

processos distintos, repensar o retrato para além do rosto. Ao se reconhecerem, transformaram

sinergia em colaboração. Conversas, encontros e experimentações conjuntas deram forma a

Retratos

Adriano Fagundes e Daniel Mattar

 

 

Há muito o retrato deixou de ser apenas o gesto de fixar feições. No território da arte

contemporânea, ele se reinventa como campo expandido, em que identidade se projeta em

objetos, símbolos e atmosferas que traduzem mais do sujeito do que sua própria face. É nesse

espaço de expansão que se encontram as pesquisas de Adriano Fagundes e Daniel Mattar, em

diálogo que ganha corpo nesta exposição.

 

Adriano Fagundes desloca o retrato para o campo da música. Para ele, são as coleções de

discos, a fita cassete, as palhetas e os instrumentos que dão corpo à subjetividade. 

Cada objeto musical escolhido pelos retratados se converte em síntese de uma vida, em

autobiografia cifrada. Há aqui uma arqueologia afetiva: o vinil gasto pelo tempo, a palheta

grafada com o nome de uma banda, a fita cassete com uma anotação manuscrita, todos esses

elementos condensam memórias e tornam-se retratos de ausência e presença simultâneas. 

Em meio a esses trabalhos, o artista apresenta também sua própria coleção de discos como

autorretrato, reafirmando que o repertório que nos acompanha é também autorrepresentação,

espelho sonoro de quem somos. Fotógrafo e também músico, constrói imagens que são

menos representações e mais símbolos de uma vida tecida pela música.

 

Daniel Mattar, que há anos investiga as passagens entre fotografia, pintura e escultura, traz

nesta exposição uma série de pinturas que tensionam o retrato para o campo da cultura visual.

Os livros, pintados em escala frontal e quase como naturezas-mortas erguidas em

verticalidade, tornam-se autorretratos e retratos: aquilo que se lê diz tanto quanto aquilo que

se vê. Cada lombada pintada carrega afinidades eletivas, genealogias e histórias de formação.

Ao lado desses autorretratos por livros, Mattar apresenta também pinturas derivadas de

fotografias realizadas por ele mesmo, como no retrato de Adriano, em que inscreve a troca e a

amizade em sua própria pintura. Sua matéria densa, ainda úmida, capta a luz e cria volumes que

oscilam entre presença e dissolução, reafirmando a investigação de Mattar sobre uma pintura

que não se encerra na tela, mas se abre em processo.

 

O encontro entre os dois artistas nasceu dessa afinidade essencial: ambos buscavam, em

processos distintos, repensar o retrato para além do rosto. Ao se reconhecerem, transformaram

sinergia em colaboração. Conversas, encontros e experimentações conjuntas deram forma a

este corpo de obras que, embora mantenha a singularidade de cada prática, encontra

ressonância em um mesmo horizonte.

 

O que vemos aqui, portanto, não são retratos no sentido convencional, mas retratos em

expansão. Entre pigmento e vinil, entre óleo e cassete, entre a mão que pinta e a que toca,

Mattar e Fagundes nos convidam a revisitar o retrato como espaço de encontro: com o outro,

consigo mesmo e com o tempo. Todas as obras da exposição desdobram-se em um musical

portrait acessível por QR code, playlists criadas de forma colaborativa pelos artistas e pelos

retratados, ampliando o gesto visual para uma experiência também de escuta

 

(Brisa Galeria, 2025)

 corpo de obras que, embora mantenha a singularidade de cada prática, encontra

ressonância em um mesmo horizonte.

 

O que vemos aqui, portanto, não são retratos no sentido convencional, mas retratos em

expansão. Entre pigmento e vinil, entre óleo e cassete, entre a mão que pinta e a que toca,

Mattar e Fagundes nos convidam a revisitar o retrato como espaço de encontro: com o outro,

consigo mesmo e com o tempo. Todas as obras da exposição desdobram-se em um musical

portrait acessível por QR code, playlists criadas de forma colaborativa pelos artistas e pelos

retratados, ampliando o gesto visual para uma experiência também de escuta

 

(Brisa Galeria, 2025)