Retratos
Adriano Fagundes e Daniel Mattar
Há muito o retrato deixou de ser apenas o gesto de fixar feições. No território da arte
contemporânea, ele se reinventa como campo expandido, em que identidade se projeta em
objetos, símbolos e atmosferas que traduzem mais do sujeito do que sua própria face. É nesse
espaço de expansão que se encontram as pesquisas de Adriano Fagundes e Daniel Mattar, em
diálogo que ganha corpo nesta exposição.
Adriano Fagundes desloca o retrato para o campo da música. Para ele, são as coleções de
discos, a fita cassete, as palhetas e os instrumentos que dão corpo à subjetividade.
Cada objeto musical escolhido pelos retratados se converte em síntese de uma vida, em
autobiografia cifrada. Há aqui uma arqueologia afetiva: o vinil gasto pelo tempo, a palheta
grafada com o nome de uma banda, a fita cassete com uma anotação manuscrita, todos esses
elementos condensam memórias e tornam-se retratos de ausência e presença simultâneas.
Em meio a esses trabalhos, o artista apresenta também sua própria coleção de discos como
autorretrato, reafirmando que o repertório que nos acompanha é também autorrepresentação,
espelho sonoro de quem somos. Fotógrafo e também músico, constrói imagens que são
menos representações e mais símbolos de uma vida tecida pela música.
Daniel Mattar, que há anos investiga as passagens entre fotografia, pintura e escultura, traz
nesta exposição uma série de pinturas que tensionam o retrato para o campo da cultura visual.
Os livros, pintados em escala frontal e quase como naturezas-mortas erguidas em
verticalidade, tornam-se autorretratos e retratos: aquilo que se lê diz tanto quanto aquilo que
se vê. Cada lombada pintada carrega afinidades eletivas, genealogias e histórias de formação.
Ao lado desses autorretratos por livros, Mattar apresenta também pinturas derivadas de
fotografias realizadas por ele mesmo, como no retrato de Adriano, em que inscreve a troca e a
amizade em sua própria pintura. Sua matéria densa, ainda úmida, capta a luz e cria volumes que
oscilam entre presença e dissolução, reafirmando a investigação de Mattar sobre uma pintura
que não se encerra na tela, mas se abre em processo.
O encontro entre os dois artistas nasceu dessa afinidade essencial: ambos buscavam, em
processos distintos, repensar o retrato para além do rosto. Ao se reconhecerem, transformaram
sinergia em colaboração. Conversas, encontros e experimentações conjuntas deram forma a
Retratos
Adriano Fagundes e Daniel Mattar
Há muito o retrato deixou de ser apenas o gesto de fixar feições. No território da arte
contemporânea, ele se reinventa como campo expandido, em que identidade se projeta em
objetos, símbolos e atmosferas que traduzem mais do sujeito do que sua própria face. É nesse
espaço de expansão que se encontram as pesquisas de Adriano Fagundes e Daniel Mattar, em
diálogo que ganha corpo nesta exposição.
Adriano Fagundes desloca o retrato para o campo da música. Para ele, são as coleções de
discos, a fita cassete, as palhetas e os instrumentos que dão corpo à subjetividade.
Cada objeto musical escolhido pelos retratados se converte em síntese de uma vida, em
autobiografia cifrada. Há aqui uma arqueologia afetiva: o vinil gasto pelo tempo, a palheta
grafada com o nome de uma banda, a fita cassete com uma anotação manuscrita, todos esses
elementos condensam memórias e tornam-se retratos de ausência e presença simultâneas.
Em meio a esses trabalhos, o artista apresenta também sua própria coleção de discos como
autorretrato, reafirmando que o repertório que nos acompanha é também autorrepresentação,
espelho sonoro de quem somos. Fotógrafo e também músico, constrói imagens que são
menos representações e mais símbolos de uma vida tecida pela música.
Daniel Mattar, que há anos investiga as passagens entre fotografia, pintura e escultura, traz
nesta exposição uma série de pinturas que tensionam o retrato para o campo da cultura visual.
Os livros, pintados em escala frontal e quase como naturezas-mortas erguidas em
verticalidade, tornam-se autorretratos e retratos: aquilo que se lê diz tanto quanto aquilo que
se vê. Cada lombada pintada carrega afinidades eletivas, genealogias e histórias de formação.
Ao lado desses autorretratos por livros, Mattar apresenta também pinturas derivadas de
fotografias realizadas por ele mesmo, como no retrato de Adriano, em que inscreve a troca e a
amizade em sua própria pintura. Sua matéria densa, ainda úmida, capta a luz e cria volumes que
oscilam entre presença e dissolução, reafirmando a investigação de Mattar sobre uma pintura
que não se encerra na tela, mas se abre em processo.
O encontro entre os dois artistas nasceu dessa afinidade essencial: ambos buscavam, em
processos distintos, repensar o retrato para além do rosto. Ao se reconhecerem, transformaram
sinergia em colaboração. Conversas, encontros e experimentações conjuntas deram forma a
este corpo de obras que, embora mantenha a singularidade de cada prática, encontra
ressonância em um mesmo horizonte.
O que vemos aqui, portanto, não são retratos no sentido convencional, mas retratos em
expansão. Entre pigmento e vinil, entre óleo e cassete, entre a mão que pinta e a que toca,
Mattar e Fagundes nos convidam a revisitar o retrato como espaço de encontro: com o outro,
consigo mesmo e com o tempo. Todas as obras da exposição desdobram-se em um musical
portrait acessível por QR code, playlists criadas de forma colaborativa pelos artistas e pelos
retratados, ampliando o gesto visual para uma experiência também de escuta
(Brisa Galeria, 2025)
corpo de obras que, embora mantenha a singularidade de cada prática, encontra
ressonância em um mesmo horizonte.
O que vemos aqui, portanto, não são retratos no sentido convencional, mas retratos em
expansão. Entre pigmento e vinil, entre óleo e cassete, entre a mão que pinta e a que toca,
Mattar e Fagundes nos convidam a revisitar o retrato como espaço de encontro: com o outro,
consigo mesmo e com o tempo. Todas as obras da exposição desdobram-se em um musical
portrait acessível por QR code, playlists criadas de forma colaborativa pelos artistas e pelos
retratados, ampliando o gesto visual para uma experiência também de escuta
(Brisa Galeria, 2025)