Nas superfícies criadas por Dudu Garcia, sentimos que algo nos

antecede e nos atravessa. As marcas deixadas ali não são apenas

matéria e gesto: evocam um tem- po remoto em que a presença

humana se inscrevia no mundo por necessidade, instinto e linguagem.

Vestígios do Pleistoceno sugere um retorno simbólico a esse momento

inaugural. A pintura aqui se aproxima da parede como abrigo, como

camada de história. A textura é protagonista: feita de acúmulos,

desgastes, acidentes e revelações. A cor remete à terra, ao tempo, ao

que sobrevive ao uso e ao abandono.

Essas obras não buscam uma imagem acabada. São superfícies vivas,

abertas, em que o fazer do artista se cruza com os registros deixados

pelo tempo. O gesto de Dudu não domina a matéria, escuta, acolhe,

reage. Há uma escavação silenciosa que guia o processo, como se a

pintura fosse, ao mesmo tempo, construção e descoberta.

Ao olhar para essas telas, o espectador não encontra uma narrativa,

mas vestígios, indícios de passagem, de presença, de memória. Há

algo de ancestral que se insinua, não como reconstrução do passado,

mas como percepção ampliada do presente.